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Os primeiros marinheiros haviam detectado esses sons estranhos e inicialmente os atribuído a criaturas míticas ou à “imaginação de marinheiros bêbados”
Os misticetos, também conhecidos como baleias-de-barbatana, cantam graças a um sistema único em sua laringe, que funciona de forma similar ao dos mamíferos terrestres como o ser humano, e que é descrito pela primeira vez em um estudo publicado nesta quarta-feira (21).
Cerca de 50 milhões de anos atrás, quando os ancestrais terrestres das baleias tiveram que aprender a nadar para sobreviver, seu sistema de comunicação se adaptou para evitar o afogamento.
Os odontocetos, os cetáceos com dentes, como os golfinhos atuais, desenvolveram um órgão nasal que lhes permitia emitir sons.
Os cientistas presumiam que, por sua vez, os misticetos, os cetáceos com barbatanas, como a baleia-azul ou a baleia-comum, usavam sua laringe para produzir vocalizações.
Mas o mecanismo de sua anatomia que permitia esses cantos não era totalmente compreendido, lembra um artigo da revista Nature que acompanha o estudo.
Os primeiros marinheiros haviam detectado esses sons estranhos e inicialmente os atribuído a criaturas míticas ou à “imaginação de marinheiros bêbados”, lembra a anatomista americana Joy Reidenberg no artigo.
Somente após a Segunda Guerra Mundial, com acesso aos sons gravados pelos hidrofones militares, os pesquisadores entenderam que esses cantos eram produzidos pelas baleias.
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No estudo da Nature, uma equipe internacional liderada por Coen Elemans, do Departamento de Biologia da Universidade do Sul da Dinamarca em Odense, realizou experimentos com amostras de laringes de três espécies de misticetos (baleia-jubarte, baleia-de-minke e baleia-comum) e as combinou com modelos anatômicos e computacionais.
A equipe concluiu que esses animais desenvolveram “estruturas laríngeas únicas para a produção de sons”.
Dois sons ao mesmo tempo
Uma vez que seus pulmões estão cheios de ar, depois de inalar com seu espiráculo e fechar válvulas que evitam a entrada de água, a baleia produz seu canto ao expelir o ar através de sua laringe.
O ar vibra entre as cordas cartilaginosas, de maneira semelhante ao que acontece entre as cordas vocais de um humano para produzir um som.
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Em seguida, o ar inspirado pelas baleias passa para uma bolsa, chamada laríngea, que permite sua reciclagem para o pulmão, para emitir em seguida uma nova vocalização.
Elemans descobriu o uso alternativo, e possivelmente simultâneo dependendo das espécies, de uma almofada de gordura localizada acima das cordas cartilaginosas. Esse órgão pode permitir a produção de outro som.
Essa observação foi obtida registrando as vibrações produzidas por um fluxo de ar em pedaços de laringe. Uma experiência que ainda é impossível de observar em um animal vivo, dado seu tamanho, aponta Reidenberg.
No entanto, a cientista questiona se a hipótese derivada do estudo poderia explicar como algumas baleias podem produzir pelo menos dois sons diferentes ao mesmo tempo.
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O fato de realizar o experimento com amostras de laringe ao ar livre limitou os resultados, pois não conseguiu explicar como os sons produzidos dentro do animal podem se propagar para o exterior na água, com todas as válvulas fechadas.
Mas, ao mesmo tempo, as medições feitas pela equipe de Elemans conseguiram estabelecer limites fisiológicos para os intervalos de frequência dos cantos, sua duração e a profundidade em que as baleias podem emiti-los.
As baleias basicamente cantam nas mesmas profundidades e frequências dos sons produzidos pelo tráfego marítimo, que perturbam uma possível comunicação entre os cetáceos.
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© Agence France-Presse
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