Nino Cucina reinaugra e vence inimigo: minha memória afetiva

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Se existe alguém que critica a avalanche de restaurantes italianos na cidade, sou eu. Já perceberam? Mas o cerne do meu argumento sobre a proliferação desses estabelecimentos é a falta gritante de originalidade e a execução medíocre da maioria, no sentido de ser extremamente básica, e com preços exorbitantes.

Entretanto, para nossa sorte, em meio ao mar de opções italianas, algumas se destacam. Uma delas é o Nino Cucina, que acaba de reabrir suas portas na 403 Sul, trazendo o talentoso chef italiano Massimo Barletti como nova mente culinária por trás das panelas.

Conheci o restaurante ainda em sua primeira filial, no movimentado bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, quando o chef Rodolfo di Santis dominava a cena gastronômica paulistana. Naquela época, senti falta de um italiano que estivesse à altura daquele padrão em Brasília. Não me refiro apenas aos pratos, que por si só eram uma experiência memorável, mas ao conjunto da obra: atendimento, porções generosas, preços justos e ambiente acolhedor.

Agora, anos depois, a chegada do Nino Cucina à capital me encheu de alegria, mas também de apreensão, afinal, a memória afetiva pode ser uma adversária poderosa. Eu havia construído expectativas específicas em relação ao lugar. O receio era tamanho que evitei visitá-lo em 2023, contentando-me em ouvir as opiniões de amigos e colegas que já haviam experimentado. Alguns amaram, outros odiaram, e houve aqueles que acharam apenas “ok”.

Foto: Nino Cucina. Crédito: Max Cajé
Crédito: Max Cajé

Aproveitei a reabertura após as reformas, em 2024, para tirar minhas próprias conclusões. Barletti trouxe novidades como o Tagliolini con Gamberi (tagliolini com camarão, shitake, tomate e rúcula), exclusivo da filial brasiliense, e o Linguine al funghi (linguine, molho de funghi cremoso e gema caipira). Esses pratos se somam aos clássicos do Nino, como o Alfredo al Tartufo, o Cacio Pepe e o Spaghetti alla Carbonara sem creme de leite, que provei em minha visita anterior.

As porções generosas chamaram logo minha atenção, começando pela deliciosa Burrata al Forno, acompanhada de uma focaccia irresistível. Antes disso, provei o Tagliere, uma seleção bem apresentada de antepastos, queijos e embutidos da casa. Poderia passar uma tarde inteira degustando essas delícias, regadas a um bom vinho branco, na companhia de amigos. Como prato principal, o chef preparou um Ossobuco marinado no vinho tinto, servido com risoto de açafrão e crocante de miolo de pão temperado com ervas, que superou em muito os filés com risoto de R$ 120 que tenho visto por aí.

Foto: seleção de antepastos do Nino Cucina. Crédito: Max Cajé
Foto: seleção de antepastos do Nino Cucina. Crédito: Max Cajé

Minha experiência foi extremamente positiva. O custo-benefício se manteve justo, considerando o aumento dos preços dos ingredientes, o ambiente está ainda mais encantador e a equipe, impecável. Talvez a carta de drinques pudesse ser mais alinhada com a proposta gastronômica, mas isso é facilmente contornado com uma boa garrafa de vinho.

Como dizem as apresentadoras de um canal no YouTube que sigo, “se você gostou, você venceu”, em referência às divergências de opinião sobre filmes e séries. Bem, migues, vou pegar emprestada essa frase e aplicá-la à gastronomia: minha visita ao Nino Brasília foi uma vitória indiscutível.

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