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A ação desta quinta foi autorizada pelo STF, onde a apuração tramita sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes
FABIO SERAPIÃO, JOSÉ MARQUES, ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA E JOÃO GABRIEL
BRASÍLIA, DF, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Uma nova fase da Operação Lesa Pátria, deflagrada nesta quinta-feira (18), trouxe para o círculo político bolsonarista um braço das investigações sobre o 8 de janeiro.
Uma das principais lideranças oposicionistas no Congresso, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) foi alvo de buscas da Polícia Federal nesta quinta-feira (18) em apuração destinada a identificar pessoas que planejaram, financiaram e incitaram os ataques do 8 de janeiro às sedes dos três Poderes.
As fases anteriores da operação tinham mirado militantes pouco conhecidos do bolsonarismo, como empresários de cidades interioranas, sem se aproximar de expoentes ligados ao governo anterior.
Parte dos adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm criticado o fato de, um ano depois da depredação em Brasília, integrantes do alto escalão de seu grupo político não terem sido denunciados na apuração dos ataques golpistas.
A ação desta quinta foi autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), onde a apuração tramita sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, após pedido da PF, com parecer favorável da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Agentes federais cumpriram dez mandados de busca no Rio de Janeiro (8) e no Distrito Federal (2) contra o parlamentar e outros nove investigados. Houve inclusive ação dentro do gabinete do deputado na Câmara.
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Nesta quinta-feira, Jordy prestou depoimento à PF, no Rio de Janeiro. Após a ação ser deflagrada, o parlamentar afirmou ser vítima de uma “medida autoritária, sem fundamento, sem indício algum, que somente visa perseguir, intimidar e criar narrativa às vésperas de eleição municipal”.
Em sua decisão, o ministro autorizou, além das buscas, a quebra dos sigilos telefônicos e telemáticos dos dispositivos apreendidos, além de emails e contas das redes sociais e de aplicativos de mensagens.
A atual fase da Lesa Pátria busca, segundo a PF, identificar os responsáveis por bloqueios de rodovias e dos acampamentos nos arredores de quartéis das Forças Armadas após a eleição.
Deflagrada dias após os atos de vandalismo às sedes dos Poderes, a Lesa Pátria se tornou permanente, com atualizações periódicas acerca do número de mandados judiciais expedidos, pessoas capturadas e foragidas.
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Essa é a 24ª fase da operação, que já cumpriu 97 mandados de prisão preventiva e 313 de busca e apreensão.
Ao longo do primeiro ano da Lesa Pátria, Alexandre de Moraes deu 255 decisões autorizando medidas de busca e apreensão realizadas pela PF em mais de 400 endereços e 350 trataram de quebras de sigilos bancário e telemático.
Na semana passada, reportagem da Folha mostrou que Moraes cita casos de congressistas investigados em seus votos pela condenação de réus do 8 de janeiro para justificar a manutenção no tribunal dos processos daqueles que não têm direito a foro especial na corte.
Porém, entre maio e agosto do ano passado, a PGR pediu o arquivamento, por falta de provas, dos inquéritos abertos contra os deputados André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Silvia Waiãpi (PL-AP), além de uma apuração sobre a conduta do cabo Gilberto Silva (PL-PB) —parlamentares que são mencionados pelo ministro em seus votos.
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Lideranças bolsonaristas, como os filhos do ex-presidente e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, saíram em defesa do colega, falando em medida autoritária da Justiça.
As suspeitas relacionadas a Carlos Jordy incluem eventos de teor antidemocrático ocorridos no Rio de Janeiro, incluindo acampamentos em frente a quartéis das Forças Armadas e bloqueios de rodovias, após as eleições de 2022.
Com a vitória de Lula (PT), apoiadores de Bolsonaro promoveram em todo o país uma série de protestos, bloqueando estradas, e passaram a se aglomerar em frente a unidades militares, onde manifestavam seu inconformismo com o resultado das urnas.
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Para os investigadores, esses episódios serviram como uma espécie de preparação para o ataque que ocorreria em 8 de janeiro do ano passado.
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Moraes autorizou as buscas e apreensões contra Jordy motivado por telefonemas e mensagens de um investigado por organizar atos golpistas em Campos dos Goytacazes (RJ).
Segundo a PF, foram descobertos, a partir de informações obtidas em fases anteriores da operação, indícios de “fortes ligações” entre o suplente de vereador de Campos Carlos Victor de Carvalho, conhecido como CVC, e Jordy.
Carlos Victor organizava ao menos 15 grupos de WhatsApp com mensagens de teor golpista, além de manifestações antidemocráticas.
Segundo a PF, há indicações de que Jordy orientava CVC e “tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região”.
Para isso, citaram uma mensagem de CVC ao deputado em 1º de novembro de 2022, quando ocorria bloqueios de rodovias por todo o Brasil após a vitória de Lula na disputa pela Presidência.
“Bom dia meu líder. Qual direcionamento você pode me dar? Tem poder de parar tudo”, disse CVC a Jordi.
O deputado respondeu: “Fala irmão, beleza? Está podendo falar aí?”.
CVC, então, disse: “Posso irmão. Quando quiser pode me ligar”.
Em 17 de janeiro de 2023, quando CVC estava foragido, Jordy fez contato telefônico com o vereador suplente.
A PGR afirmou que as provas indicam que Jordy, “além de orientar grupo expressivo de pessoas, tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região”.
O deputado é pré-candidato à Prefeitura de Niterói (RJ), cidade na qual já foi vereador. Ele foi escolhido para liderar a oposição na Câmara no início de 2023.
DEPUTADO INVESTIGADO NEGA QUE SEJA ARTICULADOR DE ATOS
Carlos Jordy negou nesta quinta seja mentor ou articulador do 8 de janeiro ou de bloqueios de estradas.
A jornalistas, quando foi prestar depoimento no Rio de Janeiro, ele disse: “Nunca incentivei, nunca financiei —muito menos financiei. Não tenho relação alguma com o 8 de janeiro. Não tenho relação alguma com ninguém dessas pessoas que foram para os quartéis-generais”.
Antes, em rede social, Jordy também tinha afirmado: “A covardia feita hoje é sintomática. Estamos numa ditadura que distorce e manipula fatos para perseguir adversários. Que Deus olhe pelo Brasil!”
Ele contou que foi acordado “com fuzil no rosto pela Polícia Federal” e que entregou a arma que possuía em casa. “Tentaram buscar outras coisa que pudessem me incriminar, mas não encontraram nada.”
O parlamentar também afirmou que em momento algum incitou ou apoiou atos nem postou nas redes sociais sobre esses protestos, mas afirmou que disse que as pessoas tinham direito de “fazer manifestações contra o governo eleito”.
Jordy também afirmou que é vítima de uma tentativa de perseguição política, de viés totalitário e sem respaldo legal. Sem citar Alexandre de Moraes, criticou “uma pessoa que se julga dono do Brasil”.
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