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Na última terça-feira, dia 12, Brasília ganhou um patrimônio cultural imaterial genuinamente candango. Por decisão unânime dos 19 membros presentes do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do Distrito Federal (CONDEPAC-DF), o Fuá do Seu Estrelo foi registrado no Livro de Formas de Expressão. A reunião, aberta ao público e presidida pelo Secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Cláudio Abrantes, ocorreu no auditório da Biblioteca Nacional, sede da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (SECEC-DF). A proposta segue para sanção do governador Ibaneis Rocha.
O Fuá de Seu Estrelo é uma tradição moderna, dotada de mitos, figuras e um ritmo próprio, que busca representar o Cerrado e o Distrito Federal, através de suas histórias e seus festejos. Idealizado por Tico Magalhães, em 2004, a tradição tem base no mito do Calango Voador, também escrito por Tico, que narra a origem do mundo, da fauna e da flora do local por meio de personagens como Seu Estrelo, que através das suas canções, em diferentes humores e momentos, deu origem aos animais do Cerrado, como o tamanduá, a preguiça e o saruê.
Segundo conta Tico, que veio de Pernambuco para o Planalto Central, para dar uma oficina do ritmo de maracatu, uma tradição deve ter ligação íntima com sua terra, o que o desmotivou a apoiar a ideia de de ensinar o maracatu no DF, e, ao invés disso criar aqui um ritmo próprio, uma brincadeira própria. “Essas tradições populares são muito ligadas ao próprio local. Elas têm relação direta com o lugar em que a gente habita. Então para mim sempre soava estranho fazer oficina de Maracatu. O próprio canto, a batida, porque Maracatu tá muito ligado ao mar, às ondas”, diz.
Inspirado por uma visita a Chapada, pela cachoeira, pelo céu e pela história de Brasília, começou a pensar num mito próprio da região, que conversasse com a identidade e o cerrado. Se pôs a trabalhar nas figuras e na história da concepção do mundo através delas. Quando apresentou a ideia aos seus companheiros do Distrito Federal, a ideia ganhou fôlego, até deixar de ser ideia, passar a ser festejo, e virar tradição. Três vezes por ano, no Terreiro Centro Tradicional de Invenção Cultural (sede do grupo Seu Estrelo) na 813 Sul, as histórias ganham vida ao som do samba pisado, ritmo único, criado para Brasília.
“Eu venho de uma cidade que tem uma tradição muito pesada. É uma tradição que trás uma base muito forte, mas ao mesmo tempo ela te engessa um pouco, de alguma forma. E aí eu pensava que a cidade [de Brasília] estava muito aberta, e comecei a escrever esse mito, que é o mito do calango voador que conta a história da criação mundo, do cerrado, de Brasília. É uma quebra o que a gente propõe, é um novo olhar do que é a tradição, porque muitas vezes a gente tem esse preconceito de que tradição é algo muito antigo, estagnado, e na verdade a tradição está o tempo todo sendo mudada. A própria cidade é um lugar de experimentação”, afirma, Tico. Neste ano, O Fuá de Seu Estrelo completa 20 anos, um terço da idade de Brasília.
A proposta de tornar a festividade, patrimônio imaterial de Brasília foi feita em 2021, no Centro Tradicional de Invenção Cultural, a escola popular do grupo, pelos alunos e pelos próprios integrantes dessa manifestação cultural. Artistas locais, mestres e mestras da cultura popular de Brasília e do Brasil, além de fazedores de políticas culturais do DF e de estudiosos como o historiador Luiz Antônio Simas, a líder religiosa Mãe Baiana de Oyá e o mestre popular Manoelzinho Salustiano, apoiaram a iniciativa.
O parecer do técnico do IPHAN e membro do Conselho que votou pela aprovação Rodrigo Ramassote, apresentado durante a reunião, sugeriu não apenas a inscrição do Fuá de Seu Estrelo no Livro de Registro de Formas de Expressão, mas também no Livro de Registro dos Lugares, no qual são inscritos os espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas. De acordo com o Subsecretário de Patrimônio Cultural, Felipe Ramón, esta inscrição será votada posteriormente.
“O CONDEPAC decidiu pelo desmembramento do pedido do Fuá de Seu Estrelo como registro no Livro de Lugares. Isso foi deixado para um momento posterior porque o Conselho julgou que precisávamos de um aprofundamento maior em relação à questão fundiária do espaço físico onde o grupo se apresenta e se manifesta. Esse desmembramento tem o objetivo de trazer maior segurança jurídica, evitando a possibilidade de questionamentos sobre o Registro no Livro de Expressões, e, posteriormente, no Livro de Registros de Lugares. Embora o Fuá de Seu Estrelo já esteja sob proteção do Distrito. O Fuá de Seu Estrelo já está registrado”, explica o Subsecretário.
Tico disse que a decisão favorável a reconhecer a tradição moderna construída por ele e por seu grupo ultrapassa o próprio grupo, e dá a chance a quem quiser possa construir sua própria história. “Eu acho que é ousado da secretaria, da cidade reconhecer, e se reconhecer nisso. Esse reconhecimento é uma ousadia, a criação da brincadeira é uma ousadia, o reconhecimento dela como patrimônio de Brasília é uma ousadia da Secretaria. Porque ela abre um espaço para outros grupos, a galera de Brasília entender que a gente pode criar as nossas próprias brincadeiras, que a gente pode trazer as histórias da gente, que a gente pode ver o que tem nesse lugar, e começar a brincar com o que tem aqui”, diz.
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