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Banca Digital (pertencente à Music2Mynd) soma 171,4 milhões de seguidores em 33 perfis; “Choquei” deixou o portfolio em 2022
A produção coordenada de conteúdo em perfis de fofoca em redes sociais virou um negócio lucrativo para influenciadores e para agências de publicidade. Com perfis que somam 171,4 milhões de seguidores, a Music2Mynd (também chamada de Mynd) lucra cerca de R$ 550 milhões por ano com campanhas de marketing.
O modelo de negócios da agência virou assunto no fim de 2023, quando o perfil “Choquei” –que já fez parte de sua rede– foi acusado de compartilhar informações falsas que teriam resultado na morte de Jéssica Vitória Canedo, de 22 anos. Serviu também para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ressuscitar a discussão do PL das fake news (2.620 de 2020).
Autointitulada “maior agência especializada em marketing de influência e entretenimento do Brasil”, a Mynd foi fundada em 2017 pela jornalista e marqueteira Fátima Pissarra em parceria com a cantora e influenciadora Preta Gil. Atualmente, cerca de 400 influenciadores fazem parte do portfólio.
Até 2023, Preta Gil constava no site da empresa como sócia. Agora, ela não está mais na lista de sócios nem no registro da empresa na Receita Federal, mas ainda há menções a ela no site: “Nascemos de uma equipe de empreendedores que, a partir da associação com a cantora e influenciadora Preta Gil, conseguiu construir um caminho de sucesso”. Veja um print abaixo:
A agência representa nomes como Pabllo Vittar, Bela Gil, Camilla de Lucas e Luísa Sonza.
Estas são algumas das marcas que já anunciaram com a Music2Mynd:
QUEM É FATIMA PISSARRA
A empresária Fátima Pissarra, 46 anos, é formada em jornalismo, psicologia e marketing. É autora do livro Profissão Influencer: Como fazer sucesso dentro e fora da internet.
Ela trabalhou em empresas como a extinta BCP, a Claro, o Terra e a Nokia. Em 2011, tornou-se gerente da VEVO no Brasil e em 2012 fundou, com o publicitário Ricardo Marques, a Music2! –que viria a se tornar a Mynd8 em 2017.
Em 2023, virou CEO da Billboard Brasil, revista focada em música. Ela também é uma das sócias do BuzzFeed Brasil, que deixou de operar no Brasil em 2020 e voltou sob seu comando em 2022. Pissarra se define como “expert em conectar marcas e artistas”.
No site da Music2Mynd, constam outros 2 sócios além de Fátima:
Dentre as diversas empresas na qual Fátima tem participação, está o restaurante Altar Cozinha Ancestral, em São Paulo, do qual a cantora Luísa Sonza também é sócia.
BANCA DIGITAL
Um dos principais responsáveis pelo avanço da Mynd no ambiente digital foi a Banca Digital Publicidade LTDA., uma agência de influenciadores. O negócio foi registrado junto à Receita Federal em janeiro 2019 por Murilo Henare Uchoa Freitas, único sócio. O capital social declarado é de apenas R$ 1.000.
Em novembro de 2019, Henare procurou Fátima Pissarra para propor uma parceria. Na época, ele gerenciava uma rede de 17 perfis que somavam 80 milhões de seguidores. No fim de 2023, o projeto já reunia 33 perfis do Instagram (alguns também ativos no X, ex-Twitter).
Até 2022, a “Choquei” fazia parte dessa lista. O perfil Garoto do Blog, que teria sido o 1º perfil a compartilhar a notícia do suposto romance entre o artista Whindersson Nunes e Jéssica Canedo, constava na lista da Banca Digital.
Depois da morte da jovem, no entanto, o site da Music2Mynd não tem mais qualquer menção à Banca Digital. Quem tenta acessar a página da agência se depara com uma nota na qual a empresa diz que “adora a pluralidade e a liberdade de expressão” e se diz vítima de notícias falsas e “ataques organizados e sistemáticos de ódio”.
QUEM É MURILO HENARE
Apesar de se apresentar no LinkedIn como sócio da Mynd, Murilo Henare Freitas não aparece no quadro societário. Ele é sócio de Fatima no BuzzFeed Brasil e CMO (Chief Marketing Officer) da Billboard Brasil.
Hoje com 27 anos, Murilo Henare começou sua carreira digital quando ainda era adolescente. Ele foi o criador da página MigaSuaLoca, que reúne memes, notícias de reality shows e fofocas de famosos. O perfil tem 2,7 milhões de seguidores no Instagram.
A partir de 2020, Henare passou a dar diversas entrevistas a veículos de comunicação sobre o modelo de negócios da Banca Digital. Ele é próximo de alguns dos principais influenciadores e artistas brasileiros –alguns com carreira alavancada nas redes sociais por ele.
No fim de 2023, Murilo apagou todos os posts e destaques em seu perfil no Instagram. Ele ainda publica stories esporadicamente e tem 383 mil seguidores.
INFLUENCIADORES & LULA
Em 8 fevereiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Janja Lula da Silva se reuniram com influenciadores digitais apoiadores de seu governo no Palácio do Planalto. No encontro, que recebeu o nome de “Influenciadores pela democracia”, Lula agradeceu aos presentes pelo trabalho que faziam. Ao menos 4 pessoas agenciadas pela Music2Mynd e/ou integrantes da Banca Digital foram à reunião:
Amigo de Janja, o influenciador Murilo Ribeiro Pereira –conhecido nas redes sociais como “Muka”–, não estava na lista de influenciadores a qual o Poder360 teve acesso na ocasião, mas atuou ativamente na campanha de Lula à Presidência em 2022.
Agenciado pela Music2Mynd, Pereira foi contratado pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação) em setembro de 2023 para trabalhar em um cargo comissionado da estatal no Rio de Janeiro com remuneração de R$ 18.000. A nomeação foi publicada no Diário Oficial e em uma portaria da EBC. Eis a íntegra (PDF – 892 kB).
“CHOQUEI” & JANJA
Ex-integrante da Banca Digital, a “Choquei” foi criada em 2014 pelo fotógrafo Raphael Souza Oliveira. Tem 7 milhões de seguidores no X (ex-Twitter). No Instagram, o número de seguidores é bem maior: 20,4 milhões de perfis seguem a página, que ganhou fama republicando conteúdo de terceiros sem créditos ou a devida checagem jornalística.
Janja seguia o perfil e contribuía informalmente com informações durante a campanha eleitoral de 2022. A “Choquei”, por sua vez, publicou ativamente a favor da campanha de Lula em 2022 e ajudou a impulsionar as ações de marketing ligadas à campanha.
Em 2023, quando já era primeira-dama, Janja interagiu com posts da página.
Em abril, ela respondeu a uma publicação da “Choquei” sobre o fim da isenção de importação de encomendas de até US$ 50. Discutia-se à época que o custo dos impostos seria repassado aos consumidores. Janja publicou a seguinte mensagem: “A taxação é para empresas e não para o consumidor”.
A frase de Janja ganhou ampla repercussão na mídia.
O perfil da “Choquei” no X ficou inativo em dezembro depois que a morte de Jéssica Canedo ganhou os noticiários. A página disse em 28 de dezembro que passava por um momento de reavaliação e que retiraria do ar o conteúdo falso republicado. A página é investigada por incitação ao suicídio.
Em 4 de janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) citou o caso da “Choquei” para pedir o impeachment de Lula.
O perfil voltou a republicar vídeos que viralizaram na internet em janeiro. A maior parte do conteúdo, no entanto, é sobre o “Big Brother Brasil 2024”.
ATUAÇÃO COORDENADA
Os perfis da Banca Digital e da Mynd têm comportamento parecido nas redes sociais. Os especializados em fofoca, por exemplo, frequentemente republicam conteúdos uns dos outros com pequenas alterações nas legendas dos posts e nos vídeos e montagens. O Poder360 analisou os posts dos perfis no Instagram e identificou publicações quase idênticas.
O QUE DIZ A MUSIC2MYND
Em nota publicada no site da agência, a Music2Mynd afirma que “está sofrendo inúmeros ataques organizados e sistemáticos de ódio, mentiras e divulgação de Fake News”. Eis a íntegra da nota (PDF – 240 kB).
“O alvo é nossa empresa, o time de pessoas sérias que trabalham aqui e, acima de tudo, as pessoas que agenciamos pela relevância que conquistaram no debate público na sociedade brasileira. Além disto, incitando envios de xingamentos e ameaças para executivos e colaboradores. Ações estas que podem gerar danos irreparáveis”, diz um trecho.
A empresa afirmou também que cuida “exclusivamente” da intermediação da venda de publicidade em perfis nas redes sociais e que não participa da definição do conteúdo postado pelos criadores afiliados.
Disse, ainda, que tem noção de que “as redes sociais podem ser usadas para o bem ou para o mal”.
“Jamais orquestramos postagens em conjunto de nenhuma forma ou criamos estratégias de cunho político para nenhum campo ideológico”, afirmou a Music2Mynd.
Murilo Henare, CEO da Banca Digital, foi procurado pelo Poder360, mas não quis dar entrevista.
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